sábado, 11 de maio de 2019

48-NOSSA SENHORA DE CARAVAGGIO- DIA 26 DE MAIO

      No princípio do século XV vivia em Caravaggio (diocese de Cremona), lugarejo a 38 km de Milão (Itália), uma jovem muito piedosa, Giannetta Vacchi.
        Por ser muito devota de Nossa Senhora, jejuava na véspera de suas festas, que ela celebrava com grande fervor; além disso, não deixava passar um só dia sem se recomendar à Mãe de Deus, e, durante o dia, quer estivesse a trabalhar em casa, quer se entregasse aos trabalhos do campo, suspendia o trabalho por breves momentos para elevar sua mente à Virgem bendita. Era, em suma, uma daquelas almas virtuosas e simples que tanto agradam ao Senhor.
        Casada contra sua vontade com Francisco Varoli, ex-soldado, teve de sofrer duríssimas provações, pois o malvado do marido não só a ofendia com os maiores insultos, mas também chegava a bater-lhe. Contudo ela suportava injúrias e maus tratos com admirável resignação, recomendando-se a Nossa Senhora com fervor sempre crescente, á medida que aumentavam os tormentos que lhe infligia o desumano marido.
        Estava Giannetta para completar 32° ano de sua tormentosa existência (e ninguém suspeitava que em breve terminariam suas tribulações), quando inesperadamente começa a paciente senhora a desfrutar o conforto da Rainha do Céu.
        No dia 26 de maio de 1432, o cruel marido, ou porque naquele dia ainda se deixasse levar mais pela brutal paixão da ira, ou por instigação de maus companheiros, agrediu a mulher mais brutalmente do que em geral o fazia, não se compadecendo dela nem mesmo depois de vê-la ferida, ao contrário, juntando crueldade a crueldade, ordenou-lhe que fosse sozinha cortar o feno, acrescentando à desumana ordem as mais duras ameaças.
        Giannetta não se revolta: pega na foice e obedece confiando em Deus, que vê as aflições dos atribulados, e no patrocínio daquela a quem invocamos como o poderoso auxílio dos cristãos.
Chegando ao campo agreste chamado Mazzolengo, distante cerca de uma légua de Caravaggio, na estrada que conduz a Misano, pôs-se a pobrezinha ao trabalho, que durou várias horas, entremeado de frequentes invocações à Virgem Santíssima.
        Quando o dia já declinava, olhando Giannetta para o feno ceifado, viu claramente que não tinha a força necessária para levá-lo para casa em uma só caminhada, e, pela distância em que estava, não havia tempo para fazer duas viagens. Desolada e torturada com a lembrança do cruel marido, não sabe o que fazer, por mais que procure imaginar um meio de livrar-se daquele apuro. Volta então os olhos lacrimosos para o céu e exclama: "Oh, Senhora caríssima, ajudai-me: só de vós espera socorro a vossa serva!..."
        Ia continuar a confiante súplica, quando de repente lhe aparece uma senhora de aspecto nobre de porte majestoso, belo e gracioso semblante, tendo nos ombros um manto azul, e a cabeça coberta com um véu branco.
        "Oh, Senhora minha santíssima!" exclama Giannetta no auge da admiração...
        "Sim, eu sou tua Senhora", replica Maria, "mas não temas, filha: tuas preces foram, por minha intercessão, ouvidas por meu divino Filho, e já te estão preparados os tesouros do céu. Ajoelha-te, pois, e escuta reverente".
        "Oh, Senhora", diz a humilde e simples Giannetta (que ou não imaginava ter diante de si a Mãe de Deus, ou então estava obcecada pelo pensamento do demônio que a esperava em casa), "eu não tenho tempo a perder: os meus jumentos estão esperando este feno".
        Mas a Virgem Santíssima, tocando-lhe suavemente nos ombros, fê-la ajoelhar-se e assim lhe falou: "Ouve atentamente, filha: o mundo, com suas iniquidades, havia excitado a cólera do céu. O meu divino Filho queria punir severamente esses homens iníquos, cobertos de pecados; mas eu intercedi pelos míseros pecadores com insistentes súplicas, e finalmente Deus se aplacou. Vai, portanto, comunicar a todos que, por causa deste assinalado benefício de meu divino Filho, devem jejuar numa sexta-feira a pão e água e, em minha honra, festejar o sábado desde a véspera; eu reclamo isto como uma prova de gratidão dos homens pela singularíssima graça que para eles obtive. Vai, filha, e manifesta a todos a minha vontade".
        Admiração, amor, compunção enchiam a alma de Giannetta, que, depois de refletir um pouco, exclama: "Senhora, quem acreditará em minhas palavras?... Sou uma pobre e desconhecida criatura...".
        E a Virgem bendita replica: "Levanta-te, minha filha, e não temas: refere corajosamente o que te comuniquei e ordenei: eu confirmarei com sinais evidentes as tuas palavras; e este lugar onde agora tu me vês se tornará célebre e famoso para toda cristandade".
        Ditas essas palavras, abençoa Giannetta com o sinal da cruz e desaparece, deixando no solo os vestígios de seus beatíssimos pés.
        Imagine quem puder como ficou Giannetta a tal espetáculo (visto que já tinha compreendido então que era Nossa Senhora quem lhe falava): extática, fora de si, levanta os olhos como que para acompanhar a Virgem Maria; e, prostrando-se em terra, beija e torna a beijar as santas pegadas. Depois afasta-se contra a vontade daquele santo lugar e corre, voa para sua aldeia, e pelos caminhos por onde passa vai narrando a quem encontra tudo o que tinha visto e ouvido. Todos creêm em suas palavras, cumprindo-se assim a profecia da Santíssima Virgem, e correm, guiados por Guiannetta, ao bem aventurado lugar, admirando as santas pegadas impressas no solo verdejante, bem como a fonte que ali brotara milagrosamente.
Todos empenhavam-se em louvar e agradecer a bondade divina, maravilhando-se sempre mais. Sua gratidão crescia, quando viam as curas operadas por meio da água da fonte milagrosa, ou as graças e prodígios alcançadas de outra maneira, que se multiplicavam dia a dia. A imagem ao lado é a original do santuário de Caravvagio em Milão.
Como é natural, a fama de tantos prodígios voou com a rapidez do raio até as cidades vizinhas, e mesmo até as regiões mais longíquas, de modo que foi tal a afluência de pessoas que iam a Mazzolengo, para contemplar os santos vestígios dos pés de Maria, admirar a fonte sagrada e beber da água prodigiosa, que foi necessário constituir uma comissão que regulasse o acesso dos peregrinos. 
        Pela ação de Nossa Senhora de Caravaggio, a paz voltou a reinar na região entre Milão e Veneza e Giannetta também conseguiu a paz em seu lar.
        Mais tarde, divulgada por toda a Europa a notícia do milagroso acontecimento e das contínuas curas prodigiosas e outras graças concedidas por Maria no local da aparição, começaram a chover as ofertas, de modo que a autoridade diocesana constituiu uma comissão cuja incumbência era recolher donativos e aplicá-los na construção de uma igreja no lugar em que tinha aparecido Nossa Senhora.
        A primeira pedra da igreja foi lançada pelo vigário de Caravaggio em 31 de julho do mesmo ano da aparição (1432), mas só foi acabada e consagrada dezenove anos depois. Ao lado imagem do santuário de Nossa Senhora de Caravaggio.
        Transcorrido um século, a igreja ameaçava ruir, pelo que foi preciso ser escorada. Depois, tornando-se pequena para o sempre crescente número de peregrinos, foi ampliada por iniciativa de são Carlos Borromeu. Posteriormente, ameaçando novamente ruir, foi preciso demoli-la.
        Foi então que o célebre arquiteto Pellegrini construiu o majestoso santuário, que é hoje uma das fúlgidas glórias da fé do povo italiano, como da arte que se inspira na religião.
Eis, pois, mais um título dado à Mãe de deus- Nossa Senhora de Caravaggio-, por causa de sua aparição em Caravaggio (Itália) a Giannetta Vacchi.

(Versão resumida do ópusculo Santuário della Madonna Santíssima di Caravaggio, de G. B. Lertora).

Nota: No Brasil há dois santuários dedicados a Nossa Senhora de Caravaggio: um no estado de Santa Catarina, para onde a devoção a Nossa Senhora sob este título foi trazida por colonos italianos que se estabeleceram no vale de Azambuja (Brusque); outro no estado do Rio Grande do Sul, na localidade de Caravaggio, na diocese de Caxias.

        O culto da Virgem de Caravaggio atravessou os mares e veio se localizar no Sul do Brasil. Ela é titular da paróquia de Campo Mourão no Paraná e inúmeros devotos afluem ao santuário da cidade de Brusque, em Santa Catarina.            
        A primeira imagem desta invocação foi trazida em 1879 pelos italianos, que se estabeleceram no município de Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Ao lado podemos observar como é belo o santuário localizado no Sul do Brasil.
         A nove quilômetros daquela cidade construiram um templo dedicado a Virgem Lombarda, semelhante ao da vila onde Giannetta Vacchi teve a visão em 1432.

ORAÇÃO:
Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria,
que jamais se tenha ouvido
que deixásseis de socorrer e consolar
a quem vos invocou,
implorando a vossa proteção e assistência;
assim, pois, animado com igual confiança,
como a Mãe amantíssima, ó Virgem das Virgens,
a vós recorro, de vós me valho,
gemendo sob o peso de meus pecados,
humildemente, me prostro a vossos pés.
Não rejeiteis as minhas súplicas, ó Virgem de Caravaggio,
mas dignai-vos de as ouvir propícia
e de me alcançar a graça que vos peço
(pedir a graça).
Amém!