sábado, 28 de março de 2020

53-NOSSA SENHORA DA LAPA, DIA 8 DE SETEMBRO

 
        Em 983, quando os mouros dominavam a Península Ibérica, Almansor, califa de Córdoba, invadiu a Lusitânia, devastando os campos, destruindo a ferro e fogo vilas e cidades, martirizando os cristãos e profanando a clausura das casas religiosas.
        Após assolar as províncias entre o Minho e o Douro, o representante de Maomé dirigiu-se para Quintela, em Portugal, atacando e destruindo o convento das freiras beneditinas de Aguiar da Beira, que foram aprisionadas e levadas em cativeiro. Algumas religiosas que conseguiram escapar esconderam em sombria lapa situada nas proximidades uma pequena imagem de Nossa Senhora. 
        Ao lado, vemos uma representação de Frei Bernardo de Brito, de 1635, que mostra Nossa Senhora sendo levada a lapa da Quintela, os Mouros a caminho do mosteiro e mais acima, Joana pastoreando próximo ao local, e abaixo uma imagem de frei Bernardo de Brito.
        Lapa é uma grande pedra ou laje que, ressaltando de um rochedo, forma abrigo.
        E a imagem foi lá deixada por 5 séculos.
        No ano de 1498, apenas alguns pastorinhos de magros rebanhos frequentavam as agrestes paragens; o local era violento e por isso, os pastores tentavam evitar. 

 Mesmo com o temor que o lugar inspirava, uma jovem pastorinha chamada Joana, muda de nascença, que frequentava com insistência as lapas e fraguedos daquele inóspito planalto, onde passava horas e horas a fio, sozinha e abandonada de seus companheiros, mas sempre rodeada de seu rebanho de cabras e ovelhas. Estas, apesar de já terem devorado tudo quanto de comestível se encontrava ao redor, não se afastavam da pastorinha, que não se arredava do local, juntamente a de mais difícil acesso, pelo que era evitada por todos os outros pastorinhos de Quintela. Os animais de Joana, no entanto, estavam gordos, como se tivessem diariamente pasto fresco e reconfortante.
      Aconteceu, porém, que a mãe de joana veio a conhecer a predileção da filha pelo recôndito penhasco, a mil metros com o rebanho por aqueles ermos tão mal afamados, ordenou que não se demorasse na lapa e que seguisse com o rebanho por toda a serra. 
        Obediente como boa filha que era, a muda Joana cumpriu as ordens da mãe, e por isso, no dia seguinte, seus companheiros, com grande espanto, viram-na retira-se de seu bornal uma linda imagem, de rosto tão formoso, pondo-se depois a rezar diante dela, o que fazia todos os dias. 
        Com toda a delicadeza tirava a imagem de seu bornal, colocava-a em cima de uma das mais elevadas pedras da serraria e, depois de rodeá-la de flores silvestres, fazia-lhe sua oração, contemplando-a com os olhos arregalados horas e horas seguidas, como se estivesse a conversar com sua querida imagem, o que lhe era impossível, por ser muda de nascimento. O rebanho, em vez de procurar pasto e alimento, mantinha-se igualmente em muda e admirativa contemplação, como se a melhor forragem fosse seu alimento cotidiano.
        Ao cair da tarde, Joana guardava a imagenzinha no seu bornal, com todo o cuidado e carinho, e, em seguida, com o rebanho, voltava para casa, para no dia seguinte recomeçar suas orações.
        Assim se iam passando os dias, até que chegou o inverno com a neve, o frio, a intempérie própria dessa estação, retendo a pastorinha e suas ovelhas no redil de seu lar.
        Ao lado a imagem de Nossa Senhora da Lapa no santuário de Vazante em Minas Gerais.
        Numa tarde triste e sombria, Joana com sua imagem, estava tão absorta em oração que não se apercebeu das zangas da mãe, que irritada, sem que se soubesse o motivo, toma a imagem e arremessa à fogueira que na lareira ardia.
        Neste mesmo instante um duplo milagre acontece, deixando estarrecidos todos os que observavam a inesperada cena. 
        As chamas afastavam-se da imagem, para poupá-la à sua fúria devastadora, e Joana, a garota muda, soltando um grito aflitivo, lancinante, exclama aterradoramente: 
        "Ó minha mãe! Que fez a minha Mãe?! Quer queimar a SENHORA DA LAPA?!..."
        A mãe, atônita e assombrada com o que vê e ouve, quando, ao querer retirar do fogo a santa imagem, que inconscientemente tinha profanado, sentiu o braço direito paralisado, tolhido, incapaz de fazer o mais simples movimento. E então, de admiração em admiração, ouve a filha contar com toda a clareza e nitidez: 
        "Encontrei esta linda imagem no ponto mais alto da serra, escondida no fundo de uma lapa dos maiores penedos que ali se encontravam, quase impossível de nele entrar, tal a espessura dos silvados, do tojo e do matagal que a escondiam aos olhos profanos. Brilhava no interior da lapa com um estranho fulgor, e foi desde que a retirei de lá a minha companheira inseparável. E deu-me a fala Nossa Senhora da Lapa!".
        Depois de retirada do fogo, todos se puseram de joelhos, pedindo perdão a Deus da profanação cometida, e logo depois foram procurar o pároco da freguesia de Quintela, o qual, ciente do que se passara, colocou a imagem num altar de sua igreja paroquial.
        Novos milagres se operaram. A mãe de Joana recupera a força e o movimento de seu lado paralisado; a pastorinha continua falando, exprimindo com clareza seus pensamentos, e por três vezes a imagem inexplicavelmente desaparece do seu altar na igreja de Quintela, para de novo ser achada por Joana em sua antiga lapa da serra, que conserva seu nome.
        Compreenderam então que Nossa Senhora da Lapa queria permanecer no lugar onde tinha sido encontrada, e por isso foi ali construída sobre o rochedo modesta capelinha que ficou sendo propriedade da freguesia de Quintela.
        Como os antigos burgos que se formavam junto dos castelos e catedrais, assim em torno da modesta capelinha principiaram a aparecer as primeiras habitações, que tomavam grande desenvolvimento, sendo mais tarde o conjunto elevado à categoria de vila. Assim a Lapa deve sua existência e sua prosperidade à circunstância do aparecimento da imagem da Virgem, e à afluência de fiéis e de esmolas deixadas no lugar. O primitivo oratório e as barracas anexas, sob a jurisdição do reitor Vila da Rua, passaram depois para a Companhia de Jesus, estabelecida então em Portugal pela primeira vez e gozando de grande simpatias. 
        Foi notabilíssimo o desenvolvimento que os jesuítas deram ao culto e à devoção de Nossa Senhora da Lapa.
        A igreja atual deve-se a eles, bem como o edifício do colégio, bastante grandioso para a época em que foi construído.
        Uma parte das duas rochas, alongadas e volumosas que constituem a gruta ou pala natural onde foi encontrada a linda imagem de Nossa Senhora, encontra-se atualmente dentro do santuário, a outra parte, por demasiadamente volumosa, ficou num edifício anexo à parte posterior do templo, comunicando com este por uma passagem exterior. 
        Ao entrar pela porta principal do santuário, o visitante depara, no centro, com uma colossal penedia, com o altar do Menino Jesus, fechado por elegante grade de ferro forjado, e, à direita, com a entrada para a gruta de Nossa Senhora da Lapa, à qual serve de cúpula o enorme rochedo.
        A devoção chega no Brasil, principalmente na Bahia e Rio de Janeiro. 
        Em Salvador, o convento de Nossa Senhora da Lapa, construído no século XVIII, projetou-se no cenário histórico brasileiro, durante as lutas pela nossa libertação política, em consequência do assalto praticado pelas tropas portuguesas, comandadas pelo general Madeira de Melo, a 20 de fevereiro de 1823. 
        A abadessa Soror Joana Angélica de Jesus, ao tentar impedir a invasão daquela casa religiosa, foi morta pelos soldados lusitanos, tornando-se a maior heroína da Independência do Brasil.
        No Rio de janeiro existem duas igrejas dedicadas a Nossa Senhora da lapa. A lapa do Desterro, assim denominada por ter sido construída nas proximidades daquele moro, e a Lapa dos Mascates ou Mercadores.
        São Paulo, também tem uma região chamada "Lapa" com sua igreja dedicada a Nossa Senhora da Lapa, ao lado a imagem venerada na paróquia em São Paulo. 

ORAÇÃO
Nossa Senhora da Lapa, 
que há mais de quinhentos anos 
aparecestes em imagem humilde 
à pastora Joana, 
lhe destes o dom da fala 
e na gruta rochosa, 
fizestes descer tantas graças de Deus 
sobre a humanidade! 
Sede sempre a estrela que brilha em nossa vida, 
Mãe Admirável, 
volvei para nós o vosso olhar bondoso 
e atendei-nos em todas as nossas necessidades. 
Dai a paz ao mundo, 
protegei nossas famílias, 
amparai-nos nas horas de aflição 
e aumentai nossa fé. 
Amém.  

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